7 de setembro de 2005
Sempre que o perigo se manifesta, o instinto animal de qualquer indivíduo é o responsável por uma reacção de afastamento do local. Instinto? Mas qual instinto? O típico português, ser particularmente peculiar, aparenta uma ausência de instinto.
Qualquer tragédia - acidente de trânsito; explosão; concerto de Tony Carreira; incêndio ... - parece actuar nas mentes dos portugueses de forma contrária do resto dos povos do mundo. Um indivíduo racional e instintivo, naturalmente afastar-se-ia do local a grande velocidade, mas o típico português é atraído. Contrariando os instintos naturais, a curiosidade destes seres leva-os a desafiar o perigo e a aproximar-se para ver o que se passa.
Uma simples batida por trás (e falo-vos de um acidente de trânsito) consegue juntar na via pública dezenas de indivíduos e fazer com que o trânsito da via de sentido contrário abrande significativamente de modo a visualizar a ocorrência e a formar quilómetros intermináveis de fila, ainda que o acidente não tenha absolutamente nada para ver. E depois o crescimento do número de indivíduos em redor do acontecimento é exponencial. Quanto mais forem, a mais distância se avistam, e mais gente atraem. O aumento populacional implica um aumento do número de versões da história. Quando chega a polícia, para além da via estar obstruída dificultando o seu trabalho, tomam conhecimento de uma mão cheia de versões diferentes do acontecimento, o que é sempre agradável, porque têm muito por onde escolher.
O espectáculo acaba e a multidão dispersa, muito lentamente, de regresso ao emprego que abandonaram por motivo de extrema importância. Permanecem a "trabalhar" até à ocorrência do próximo acidente de viação, explosão ou aparição de assassino armado à solta pela rua, altura em que abandonam tudo e se voltam a reunir.
No fundo somos um povo sociável que simplesmente gosta de convívio.
3 comentários:
lolol, o povinho português é sempre o mesmo.Não podem ver um acidente que param logo para ver e depois ñ se lembram que vão carros há frente deles e dps em vez de verem só um acidente vêem 2,lol.
Está um texto bem escrito, parabéns ao escritor.Escolhes-te um bom tema.
Eu acho que é simples curiosidade. Aquela mesma que faz o bom português explorar as entranhas das suas narinas, ou a obscuridade interior dos seus ouvidos.
Normalmente o que se encontra nesses sítios não constitui grande novidade :D
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