23 de agosto de 2005

Bases de dados

Impressiona-me, pela positiva, a capacidade dos mais velhos, geralmente categorizados como avós, de referirem, numa simples conversa, uma quantidade gigantesca de informação relativa a uma quantidade gigantesca de indivíduos. Em breves momentos de conversação conseguem mencionar terceiros e saber tudo sobre os parentes, localização da residência, vizinhos, últimos contactos visuais que tiveram com o indivíduo, doenças (geralmente com alguns erros científicos), factos recentes mais ou menos relevantes, emprego, cadastro, eventuais condutas imorais ... A lista continuaria indefenidamente.

Encadeiam a conversa de modo a que alternem de personagem em personagem, continuando a aceder à sua base de dados, de forma rápida e eficaz, e procedam com a sua partilha de informação aparentemente infinita. Nada melhor do que um exemplo para se perceber exactamente aquilo a que me refiro. Vou citar cerca de vinte segundos de conversa:

"A semana passada passei pela Dona Clementina, que mora ali naquele primeiro prédio na rua em que se vai para Fiães no 2º esquerdo, ao lado do Senhor Leonel do talho que teve aquele reumatismo craniano o mês passado. O Senhor Leonel, não estás a ver quem é? Era casado com a Carmelinda que o enganou com o Zé dos Cães que andou fugido da polícia por causa daquela casa de meninas (que pouca vergonha) que tinha ao lado da farmácia que foi assaltada ontem."

Esta capacidade de memorização, articulação e actualização de dados é de facto impressionante. É concerteza o resultado de muitos anos de exercitação mental ao mais alto nível. Basicamente, não é para qualquer um.

1 comentários:

Anónimo disse...

P.C., és um excelente exemplo dum futuro idoso capaz de engendrar diálogos mirabolantes e plenos de conteúdo, como o que aqui nos mostraste. :)

 
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